2 de março de 2007

Professores e a evoluçao dos tempos.

A minha Mãe precisava de caminhar 7 Km (!) para chegar à escola primária da vila mais próxima. Mesmo assim, e apesar da força de vontade, chegar às aulas dependia da força da ribeira que, por vezes, insistia em levar o tronco que servia de ponte (e não, não é o conto da desgraçadinha, é mesmo verdade). De mãos roxas de tão enregeladas e filha de pais analfabetos, pequenita e franzina, a minha Mãe recebia com resignação as reguadas valentes que a Senhora Professora insistia em dar-lhe quando dizia que não sabia fazer as "contas de dividir". Não tinha ninguém que a ensinasse e a Professora só explicou uma vez.
Falámos nisto ao almoço, um destes dias, a propósito desta onda de agressões a professores pelo nosso país. Vieram-me as lágrimas aos olhos e agora entendo melhor porque motivo é que a minha Mãe, apesar de oriunda de família humilde e do sacrifício que esta estava disposta a fazer, não quis seguir os estudos, tendo concluído apenas a 4ª classe. Percebo agora porque é que eu, sem nunca ter posto os pés num infantário ou pré primária, cheguei à primeira aula da primeira classe a saber ler, escrever algumas frases para além do meu nome e efectuar operações básicas de matemática. Talvez a minha Mãe tivesse querido evitar que as minhas mãos, embora não tão frias, sofressem o ardor das reguadas. E conseguiu. Obrigada, Mãe. Obrigada, Pai.