3 de fevereiro de 2007

Histórias

Há histórias que eu conto nas ocasiões sociais e que começo francamente a ficar farto de as contar. Num gesto de aproximação às novas tecnologias, vou contá-las aqui, e depois quando me pedirem uma historinha linda, encaminho as pessoas para esta beluga. Parece-me bem, ecológico, económico, e, sobretudo, anti-histamínico, sem perder, no entanto e com toda a certeza, a sua vertente oxigenante.

Ora cá vai.

Ah, já agora, todas as histórias metem álcool, e algumas metem gajedo; se alguma destas coisas vos ofende, mudem-se para o Vaticano em vergonha, tornem-se vendedores, ou vendedoras, de bibes, velas e rosários no novo Centro Comercial em Proença-a-Nova, ou comecem a ler a coluna do Ricardo Araújo Pereira. A coluna, a vertebral. Se não perceberam a piada não merecem o ar que respiram e deviam ser encostados a uma parede mal pintada e corridos a tiros de G3, das de Angola.

Historinha #1

Descobri no outro dia que isto se passou no Inverno de '97, durante a Passagem de Ano, na saudosa vila de Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas; este que vos escreve foi acasalado (e não acasalar, como verão) com formosa moçoila, e achou, na sua inocência, que a melhor maneira de a impressionar era beber uma garrafa de vodka com sumo de laranja, antes de ir ao cinema. Apesar dos apelos da gaiata, a garrafa de vodka marchou por inteiro, o que já não aconteceu ao corpo e mente do valoroso (e parvo) escritor, que acordou algumas horas depois com o próprio vómito. Antes, tinha pedido ajuda a um dos jornalistas presentes, que responde: 'Tás parvo, levanta-te e vai sozinho!; ao perceber que as lareiras não têm por hábito bater recordes à volta da minha cabeça, o tal jornaleiro logo me ajudou a ir para o quarto. Para tentar provar a minha sobriedade, contei as traves do tecto (Alentejo, lembram-se?, casas antigas e tal), mas falhava sempre uma porque estava na sombra. Outro momento alto desta noite, inclui um penico ao meu lado que falhei em ver, obrigando os "amigos" a limpar tudo novamente; desta vez, numa sala diferente: gosto de ser original.

Historinha #2

A mesma companhia da história anterior, as mesmas razões, o mesmo resultado; pelo meio, a diferença: sentado na sanita e observando a beleza líricamente atraente da banheira, perguntei a um amigo: Oh João, limpas-me o rabo?

Historinha #3

Alguns anos mais à frente, no banco de trás de um Fiat Punto, deu-me a fome. Fui aos sacos das compras, e o único consumível era uma garrafa de Moscatel (do bom), que serviu de jantar. O digestivo foi uma bela SuperBock (ou Sagres, talvez Sagres, porque um dos Zés tem um progenitor que há altura trabalha na Central de Cervejas), e a cama uma bela sanita na Costa. O ponto alto da noite foi os "amigos" a deixar-me lá, ir fazer o jantar, jantar, comer a sobremesa, receber mais convidados que perguntam: O Anselmo, não vinha também?, ao que os "amigos" respondem: f[incompreensível]oda-se, o Anselmo tava a gregoriar na casa de banho! Felizmente estava bem agarrado à sanita, ou teria caído e morrido afogado no próprio vómito. Seria um Rei Lagarto à escala tuga (eu sei que o Jim Morrison não morreu assim, mas o efeito dramático é impressionante).

Historinha #4

Arrifana, mesma companhia, mesmas razões da Historinha anterior, e curiosamente o mesmo resultado, com a diferença de que consegui gatinhar até à sanita. Orgulho-me de conservar lucidez suficiente para encontrar o caminho e conseguir colocar uma mão à frente da outra sem cair e bater com os queixos ou o nariz. Aposto que hoje há pessoas que preferiam que tivesse caído.

Historinha # 5

Viagem de regresso do Japão, estoirados de levar porrada, de caminhar kilómetros, e de aturar estranjas (os outros é que são estranjas, mesmo num país estranja, ok?, Quinto Império e tal) e uns aos outros, combinámos chegar ao avião e beber uma garrafinha de vinho, para relaxar e dormir a viagem toda. Este vosso conviva bebeu quatro, já no ar, e despejou imediatamente a quarta garrafa para dentro de um saco de enjôo. Levado rapidamente para a casa de banho mais próxima, lá ficou durante umas horas valentes. Entre outras coisas, entupi a sanita e o lavatório, dormi e deixei aquilo num estado tal que tiveram que selar a casa de banho. Quando cheguei à cadeira, liguei a tv informativa para perceber onde estava, e descubro com horror que estava já na Sibéria, o que me leva a crer que sou a única pessoa que atravessou a Ásia completamente bêbado.

Tenho mais historinhas lindas, mas por agora só me lembro destas.

Imagino que, depois disto, não irei ter mais assunto de conversas festas, revertindo por isso para os bons e velhos assuntos de gajas, bola e motas.