Estou a ficar madura e saborosa...
... que nem uma pêra rocha. :)
A propósito de um concurso público ali para os lados do Limoeiro, achei que ficava bem aventurar-me nos transportes também públicos. Duas horas e meia depois regressei chez moi com um sorriso nos lábios. Antes de ir dormir (e porque já é tarde) não resisto a deslindar telegraficamente estas sensações...
- Adoro sentir-me inteiramente lisboeta, mesmo não sendo, e reconhecer-me privilegiada: não tanto por viver na cidade capital mas por ser sensível e tão permeável a esta vida, ao pulsar da nossa LisboaMulher, rica em recantos e ainda tão MeninaPura e bairrista face às grandes capitais europeias;
- Foi preciso chegar aos vinte e oito anos para reconhecer a necessidade de, mesmo de quando em vez, fazer umas viagens em transportes públicos: faz-me descer à terra e perceber como sou uma filha-da-mãe-de-uma-sortuda por ter uma vida tão cor de rosa face às vidas verdadeiramente difíceis que consigo antever no olhar sofrido das gentes com quem me cruzo no autocarro ao final do dia (e não, não sou pedante por ter escrito isto nem acho que me andei a misturar com o proletariado porque eu tenho muito de esquerda);
- A 3ª idade. Não há nada que eu possa escrever aqui que consiga transmitir-vos o que senti. Apanhei o 18E no Castelo para o Martim Moniz. Velho e a ranger de cansaço, o eléctrico trazia consigo um grupo de utentes que, na sua maioria, tinha mais de 70 anos. Depois.... 4 ou 5 turistas e eu. Cumprimentam-se todos, conhecem-se porque se encontram naquela "carreira" quando vão levantar a reforma ou "aviar" a receita à farmácia. Ajudam-se uns aos outros a subir e descer os parcos degraus do eléctrico e é de uma riqueza inigualável sentir a solidariedade entre as pessoas. Depois cumprimentam o motorista como se o conhecessem há uma vida e dizem, em tom de brincadeira, para disfarçar a evidente resignação da perda do vigor físico: "Espere aí, só faltam mais 3 da brigada do reumático... Não arranque senão ele dá um mortal!". E riem, brincam com as muletas e bengalas uns dos outros, contam que esta semana estão melhores que a semana passada e antevejo que, no dia em que não consigam, mesmo a custo, subir os degraus do eléctrico se vão sentir muito mais tristes. É de uma riqueza inigualável sentir a solidariedade entre as pessoas.
Nota 20 valores:
- As vizinhas às esquinas, na conversa e triki-triki, a apostar se o eléctrico raspa ou não o carrão mal estacionado lá mais à frente;
- A graça e jeito desta cidade bonita que eu adoro;
- A renovação urbana que, aqui e ali, vai despontando em algumas ruas (é urgente animar de cor e gente nova a zona de S. Paulo, Largo Conde Barão, etc.);
- Os pintarolas de Lisboa, marialvas jingões que têm um sotaque e maneiras que me deixam a revirar os olhos;
- O Largo da Armada, às Janelas Verdes, a que eu acho tanta graça, onde desagua a Rua do Sacramento a Alcântara e na qual se pode ler, junto à respectiva placa, nova insígnia: ** Rua mais Florida de Lisboa **.
- A Carris já tem um serviço sms (se calhar vocês já o conhecem há anos...) que nos permite saber quanto tempo demora o autocarro X a chegar e qual a sua periodicidade.
Nota negativa:
- Aos lisboetas que não pagaram a conta da água e que, por isso, hoje, excepcionalmente, não terão tomado banho mas em quem eu acredito piamente que se lavem todos os dias...;);
1 Improvisos:
Andar de eléctrico ou passear nos bairros históricos tem sempre uma certa magia.
:)
terça-feira, fevereiro 06, 2007 9:06:00 da tarde
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